O Azuma Kagami (吾妻鏡 ou 東鑑, literalmente “O Espelho do Leste)”é uma crônica histórica muito conhecida e estudada pelos historiadores especializados em Japão medieval.

Este texto medieval narra eventos do Xogunato Kamakura, desde a rebelião de Minamoto no Yoritomo contra o clã Taira em Izokuni de 1180, até Munetaka Shinnō (o 6º shōgun) e seu retorno à Quioto, em 1266. A obra também é chamada de Hōjōbon (北条本) nome dado por causa da família Hōjō de Odawara (prefeitura de Kanagawa), que tinha posse sobre este material antes de ele ser doado a Tokugawa Ieyasu.
Originalmente consistia em 52 capítulos, os quais foram escritos entre1180-1266 em ordem cronológica, apesar de compilados entre 1266 e 1301. Infelizmente, o 45º capitulo foi perdido em algum momento da história. A autoria do livro é atribuída à vários escribas daquela época cujos nomes são desconhecidos.

Quem deseja pesquisar esta obra no original, precisa estudar Kanbun, ou seja, textos clássicos chineses produzidos no Japão. Muitas vezes, o Kanbun japonês parece estranho para quem domina o chinês (e realmente é!), portanto, é preciso estudar esta modalidade especificamente para ler textos japoneses medievais. O Azuma Kagami está escrito em um estilo chamado Hentai Kanbun (nada a ver como hentai que vocês conhecem!), o que era extremamente difícil e inacessível à maioria dos japoneses. Ele só ganhou uma versão com furigana em 1626.



Foi entregue ao shōgun Tokugawa Ieyasu em 1603, que obteve a parte que faltava de outro Daimyō e então ordenou a preparação e publicação da versão Fushimi do Azuma Kagami em Kokatsujiban, a antiga impressora de tipos móveis. Esta edição, por sua vez, tornou-se a base para as atuais edições impressas, tanto que o próprio Ieyasu considerou o livro como produto da sabedoria histórica e o manteve ao seu lado, consultando-o frequentemente.
O Azuma Kagami contém um registro extremamente detalhado de diversas atividades focadas no xogun, com entradas quase diárias que também incluem notas sobre o clima. Foi considerado um diário oficial de Kamakura Bakufu, mas contém seções sobre eventos em áreas distantes escritas no dia em que ocorreram, por isso é lógico supor que essas entradas foram adicionadas posteriormente. Seu conteúdo abrange desde palavras e feitos do xogun, oficiais, soldados até poemas, passagens literárias, descrições de caçadas, banquetes e notas sobre a época.
Lembro que na minha primeira aula de Kanbun, fui apresentada a um trecho do Azuma Kagami, o qual quase me fez enlouquecer, devido a sua complexidade. Posteriormente, um colega, especialista em Kanbun, me disse que este texto é inadequado para iniciar um curso de Kanbun. Portanto, fica aí a dica, pessoal. Não comecem pelo Azuma Kagami! Apesar de os estudiosos apontarem muitas falhas, o Azuma Kagami é considerado o mais importante documento existente relativo ao período Kamakura.

Não consegui encontrar uma tradução completa do Azuma Kagami para o inglês, mas a obra intitulada The Founding of Kamakura Shogunate, de Minoru Shinoda, aborda os anos iniciais do xogunato e tem diversos trechos do Azuma Kagami traduzidos para o inglês.
O livro está disponível no site Internet Archive e também no Genesis Library. É possível encontrar em outros sites, mas precisa ter o login de alguma instituição ligada àquela página. https://archive.org/details/foundingofkamaku0000mino
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