Toru Dutt (1856-1877) – poeta, romancista, ensaísta, tradutora e poliglota – foi uma notável pioneira na história da literatura indiana. Nascida como Torulata Dutt em 4 de março de 1856, na ilustre e rica família Dutt de Rambagan de Calcutá, era a filha mais nova de Govin Chunder Dutt e Kshetramoni. Os tios e primos de Toru também foram escritores prolíficos de prosa e poesia em inglês e o famoso Álbum da Família Dutt, publicado em Londres, 1870, por Govin Chunder Dutt, traz evidências coletivas dos esforços poéticos da família.

Em 1862 – quando Toru tinha seis anos – os Dutts, originalmente hindus, converteram-se ao cristianismo. Mas apenas três anos depois, a felicidade da família unida foi abalada quando Abju, o filho mais velho, morreu aos 14 anos. Profundamente abalado, Govin Chunder, juntamente com a sua esposa e duas filhas partiram para a Europa em 1869 com a intenção de se estabelecer lá. Ele queria que suas filhas talentosas conhecessem o mundo e recebessem o melhor da educação ocidental. Eles navegaram para a França, onde Aru e Toru frequentaram uma escola francesa em Nice por alguns meses, estudaram francês e passaram um tempo em Paris e Bologna, na Itália, antes de mudarem-se para a Inglaterra em 1870. Junto com seus estudos de língua e literatura francesa na Inglaterra, as jovens começaram a traduzir poesia francesa para o inglês. A família passou um ano em Londres, onde Aru e Toru estudaram música e história.

Em 1871, os Dutts mudaram-se para Cambridge, onde, durante os dois anos seguintes, Aru e Toru participaram da série “Lectures for Ladies” organizada por educadores liberais como Millicent Garrett Fawcett e Henry Sidgewick. Em Cambridge, Toru conheceu Mary E Martin, com quem manteve uma estreita amizade, principalmente por meio de cartas, até sua morte. Em setembro de 1873, a saúde debilitada das duas filhas forçou os Dutts a retornar a Calcutá.

Os quatro anos que as meninas Dutt passaram no exterior foram os mais felizes e os mais libertadores. Após seu retorno a Bengal em 1873, Aru e Toru tentaram escrever para sair da solidão e da atmosfera sufocante que vivenciavam em Calcutá. Mas, em 1874, Aru, de 23 anos – irmã mais velha de Toru, companheira constante e alma gêmea literária – morreu de tuberculose. A morte de Aru pôs fim à desejada companhia literária e Toru, agora sozinha, procurou refúgio nos seus livros – lendo e escrevendo com grande intensidade.

Nos três anos seguintes, Toru produziu uma coleção impressionante de poesia e prosa. Ela contribuiu regularmente para o “Poet’s Corner” da The Bengal Magazine e The Calcutta Review, publicando uma série de traduções para o inglês de poesia francesa entre março de 1874 e março de 1877. Ela também escreveu “An Eurasian Poet” e dois ensaios sobre os poetas românticos franceses chamados Leconte de Lisle e Joséphin Soulary para The Bengal Magazine em 1874.

Em A Scene from Contemporary History, publicado na The Bengal Magazine (junho-julho de 1875), Toru traduziu dois discursos políticos de Victor Hugo e M. Adolphe Thiers. Ela também queria traduzir o livro Les Femmes dans L’Inde Antique (Mulheres na Índia Antiga), da escritora francesa Clarisse Bader, para o inglês, como mostra sua correspondência com Bader, mas sua saúde debilitada a impediu de fazê-lo.

A intensidade das suas atividades literárias durante esse período, bem como a urgência expressa nas suas cartas a Mary Martin, mostram que a morte de Aru e a sua própria saúde debilitada talvez lhe tenham dado uma premonição da proximidade do seu próprio fim. Sua premonição se confirmou e Toru, destinada a morrer jovem como seus amados irmãos, morreu em 30 de agosto de 1877, sofrendo de tuberculose.

A única obra sua publicada em vida foi A Sheaf Gleaned in French Fields (1876), uma coleção de traduções para o inglês de poesia francesa que Toru havia começado com sua irmã mais velha, Aru, publicada por uma pequena editora em Calcutá sem qualquer prefácio ou introdução. Toru leu a resenha apreciativa de Edmund Gosse sobre o livro no The Examiner de agosto de 1876, mas não viveu para ver a segunda edição ampliada que seu pai publicou junto com um livro de memórias dela na mesma Saptahik Sambad Press, Calcutá,  em 1878 nem a ilustre terceira edição de quase 200 poemas publicada pelo Sir. Kegan Paul em Londres em 1880, que tinha um prefácio de Arthur Symons e uma ilustração de Toru e Aru.

Toru também deixou seu único romance inglês, Bianca, ou The Young Spanish Maiden, inacabado. Bianca foi posteriormente publicada em série na Bengal Magazine de janeiro a abril de 1878. O romance francês de Toru, Le Journal de Mademoiselle d’Arvers, foi publicado postumamente na França em 1879 com uma introdução da escritora e historiadora francesa Clarisse Bader. Ancient Ballads and Legends of Hindustan, compreendendo poemas originais de Toru e transcriações poéticas e adaptações da literatura sânscrita e contos bengalis, foi publicado postumamente por Kegan Paul em Londres em 1882 com as memórias introdutórias de Edmund Gosse sobre a vida e obras de Toru.

A obra de Toru Dutt é ainda desconhecida no Brasil, mas seus poemas podem ser facilmente encontrados online e seus livros, na Amazon. Vale a pena conhecer esta fase da inicial da literatura indiana em língua inglesa.

Fonte: Dr. Sutapa Chaudhuri – Assistant Professor of English, Dr. Kanailal Bhattacharyya College, Department of English, University of Calcutta.

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